Faz muitos anos, que a primeira rodada era um drama para os jogadores mais fortes, porém isso mudou recentemente, e já a primeira rodada apresenta desafios até aos melhores participantes, sobretudo quando enfrentam enxadristas jovens! É certo que na maioria dos casos a diferença é ainda grande, mas sempre há surpresas e adversários bem preparados para diminuir essa diferença. A partida que segue, por exemplo, se desenvolveu em uma importante linha teórica da Eslava e o jogador de menos elo deu um grande trabalho ao mestre.
A denominada Eslava Clássica, que as brancas enfrentam com a variante Holandesa, assim chamada pois foi uma das linhas mais utilizadas nos matches entre Alekhine e Euwe (1935 e 1937) realizados na Holanda.
Um lance importante nesta linha, onde as pretas aproveitam a enfraquecida casa b4 para desenvolver suas peças de forma ativa.
11.Bd3 Bh5 12.e5 Cd5 13.Cxd5 cxd5 é outra ordem para chegar ao mesmo cenário da partida.
Primeiro utilizada por Furman no ano 1954. A ideia é atrapalhar as ações brancas na ala de rei mediante esta cravada. A disposição dos peões centrais autoriza as ações brancas nesse setor. O lance que segue é o mais popular, saindo da cravada.
A sua vez as pretas devem manter controle de g5, enquanto o bispo já tinha cumprido a sua missão em b4. O jovem adversário do experimentado condutor das brancas conhece a sua teoria.
Um lance não tão usual, porém lógico. 15.Bd2 é aqui a linha principal, culminando o desenvolvimento. Depois de 15…Cb8 16.Ce1 as brancas estão preparadas para avançar seus peões em plano ofensivo na ala de rei.
Possivelmente a imediata 15…Cb8 – para …Cc6, procurando um destino mais ativo para esta peça- seja mais adequada, sem criar pontos fracos no campo próprio.
Como mencionado, uma manobra útil para outorgar nova vida ao cavalo preto. Por exemplo, ele pode se dirigir a b4 em uma nova instância da ideia de explorar a fraqueza dessa casa, combinado com a colocação de uma peça pesada na coluna aberta. Dessa forma as pretas criam contra jogo.
17.Ce1 de imediato merece atenção, para lançar os peões como indicado pela vantagem de espaço que as brancas têm nesse setor.
Logicamente as pretas não precisam esperar passivamente que as brancas desenvolvam suas ideias. O lance do texto enfraquece e6, porém abre a coluna f para ativar a torre e assim criar contra jogo.
Porém este lance é uma imprecisão, desde que enfraquece a estrutura na ala de rei de forma desnecessária. No seu lugar, 24…Cf5 teria mantido um equilíbrio dinâmico.
Não tenho certeza que esta oferta de troca deva ser feita. Possivelmente um lance como 25.Be2!? seja mais crítico, obrigando às pretas a mostrar suas cartas. Porém Limp, um reconhecido finalista à altura dos melhores do país, nunca teme a ficar com poucas peças para dar batalha.
A troca de bispos é estrategicamente boa para as pretas, porque o das brancas é mais valioso: 25…Bxf1 26.Tfxf1 Cf5 desde que agora o cavalo preto ganha uma casa forte.
Agora voltamos ao statu quo prévio às imprecisões do lance 25: as brancas têm as melhores peças e um objetivo claro na ala de rei. Os seguintes lances, no entanto, apresentam algumas imprecisões que podem ser lógicas se consideramos que a esta altura ambos os enxadristas não deviam ter tempo sobrando no relógio.
27.h3!? é outro passo na escalada de violência branca na ala de rei, e possivelmente deva se preferir.
Chegou a hora de eliminar ao incômodo cavalo centralizado.
29…Bg4„ com ideia de …h4, Dh5. O lance do texto permite às brancas manter alguma iniciativa.
32…Tc7!? é outra possibilidade.
A pressão branca dá frutos. O problema com o lance do texto é que permite um golpe tático utilizando a condição de peça sobrecarregada do peão em e6. 33…Rh7 34.h3 Thf8 35.Bb4 porém claramente a posição preta seria defensável. O mestre internacional não perde a oportunidade de conduzir um elegante arremate desde esta posição.
Demonstrando os defeitos do avanço do peão torre rei das pretas. O mate se produz em poucos lances. Uma difícil vitória para o favorito deste duelo. Apesar da diferença de elo, o condutor das pretas manteve o equilíbrio pela maior parte do jogo, perdendo pé somente ao final. 1–0
Comentário de IM Luis Rodi
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Sobre o Autor
Criador da plataforma Xadrez Forte. Graduado em Engenharia Florestal e discente de Ciência da Computação. No xadrez, atua como jogador, professor e árbitro regional de xadrez filiado à Federação de Xadrez do Amapá.
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